A árvore mais sozinha do mundo vê e sente. Sente e conta. Chora. Tem sentimentos. Observa: Carlos, Guerlinda, Alice, Maria e o pequeno Pedrinho. Depois Elvira.
Observam também: (1) um espelho português e (2) um carro e (3) uma roupa de proteção.
Essas vozes pouco convencionais dão corpo ao brilhante romance de Mariana Salomão Carrara, que experimenta narradores fugidios do óbvio, ultrapassando os limites imaginários e convidando o leitor à intimidade dessa família.
Uma família que experimenta inúmeras dores; que, na terra, vivem do cultivo do tabaco; que, acima de tudo, resguarda silêncios, compartilha dores caladas, mas um amor... um amor imensurável! Como diz a voz arbórea, “eles são tanto de amor”.
A obra me comoveu em cada nuance, nos mínimos capítulos, na singularidade que rege a orquestra narrativa. Veja bem...
Como pode um espelho pensar? Como diz um carro? E uma árvore? O que uma roupa de proteção, um “EPI qualquer”, poderia sentir?
Todas essas perguntas guiam sensorialmente, a saga familiar que desenrola um livro que passeia por dramas, dissabores, relações íntimas, tão íntimas quanto se poderia ser.
Prova de que profundidade tem menos a ver com quantidade de páginas (aqui, são pouco mais que 200), e mais com a habilidade autêntica de envolver o leitor nessa cadeia sentimental, cujos personagens – e narradores – te fazer esquecer que há um mundo ao redor.
O verdadeiro poder deste livro, para mim, está aí: fui também parte essencial da ideia deste romance, do seu desenrolar; um membro da família, convivendo diariamente em um exercício constante de empatia, de “ser o outro”.
Sensível, tocante, absurdo de original. Ao fim, tem-se a certeza de uma obra que não se esquece fácil. A vontade é abrir os braços e tocar a pele, fazer carinho n’A árvore mais sozinha do mundo.
Boa leitura!
Em uma pequena roça no Sul do país, a vida de Guerlinda, Carlos e seus filhos cumpre o tempo da terra. O cultivo do tabaco dá sustento à família, que dia após dia enfrenta as oscilações da natureza, esguichando venenos e adubando as vergas para que as folhas atinjam a qualidade ideal. Nessa angústia da espera - e em meio a investidas das empresas que dominam o mercado fumicultor -, ainda é preciso decifrar os códigos da adolescência e aprender a sua difícil linguagem de amor. Quando chega a época da colheita, os dias se transformam, e a família recebe a ajuda da mãe de Guerlinda, que, mesmo com seus estímulos e sua peculiar ternura, parece incapaz de emendar a casa tomada por silêncios incômodos e perdas iminentes.
Não me pergunte os motivos, mas a capa me lembrou tanto um vidro de Biotônico Fontoura rs(minha mãe empurrava isso guela abaixo da gente o tempo todo)
ResponderExcluirMas se parodiar para a realidade do livro, é bem isso. Doses de realidade, de sentimentos, de dores, angústias e alegrias!
Como não conhecia o livro, já preciso procurar para saber mais!
Beijo
Angela Cunha Gabriel
Caramba, Angela, lembra mesmo um vidro de Biotônico, rsrsrsr
ExcluirOlá! Eu fico aqui admirada o quanto uma história pode mexer com a gente né, um enredo tão singular, que nos faz refletir por horas e horas e o mais importante nos marca de maneira única e para sempre.
ResponderExcluirOlá. Adorei a sua resenha. Já li outro livro de Mariana Salomão Carrara : Não fossem as sílabas de sábado e é um relato de um luto, numa intrincada teia de emoções , pela própria situação. Vou colocar esse na lista .
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