Corpo Desfeito - Jarid Arraes


Um corpo desfeito // ato ou efeito de se desmanchar na própria existência.

A obra de Jarid Arraes nos convida a explorar a vida de Amanda, uma menina de apenas doze anos que, após perder a mãe, precisa (con)viver com a sua avó, uma mulher de poucas palavras e muita devoção - uma devoção deliriosa, superlativa, que tanto machuca até o limite do abuso (físico e psicológico).

Ao longo de dias, meses, passamos a compartilhar com essa pequena/grande personagem todas as suas dores, inquietações e, sobretudo, toda a sua ânsia de um mundo que sempre lhe fora negado.

Embebido em uma prosa poética afiada, precisa e lapidada por mãos habilidosas, Corpo Desfeito conduz uma narrativa única e que, mesmo dolorosa, nos desperta ao belo da inocência, à pureza das descobertas e ao cotidiano de uma criança que, sem permissão à si mesma, encontrou nas brechas do mundo uma maneira própria de escapar das ciladas e da negligência de quem deveria ser seu maior referencial.

E ela descobre, ao tempo em que leva o leitor junto, que não há como fugir do seu próprio coração. Que mesmo que a respiração pese, que o peito arfe, nosso corpo (esse mesmo corpo que se desfaz) é uma habitação que precisa, vez ou outra, quase sempre, de reparos constantes.

Jarid Arraes nos mostra que a literatura pode - e deve - ser esse catalisador de histórias ainda pouco contadas e exploradas. Através da avó (que de certa forma reproduzia as suas próprias dores e violências na neta) ela nos entrega a personagem de Amanda como um território, no qual nós mesmos nos aproximamos de um lugar muito íntimo do outro. Ela nos desperta empatia, nos coloca no centro de uma infância retirada e violentada.

Não é leve, nem fácil, mas é necessário. E dói pra no fim cicatrizar. 

Boa leitura!

Em uma cidade do interior do Ceará, uma família vive uma sequência de abusos: avó, mãe e neta estão presas em uma teia complexa e violenta de abuso e negligência. A dureza das expectativas criadas e não cumpridas, do ciúme doentio e do desejo de absoluto controle estão presentes neste primeiro romance de Jarid Arraes.

Ao retratar o cotidiano de Amanda, jovem de doze anos que mora sozinha com a avó desde a morte da mãe e do avô, Arraes cria uma narrativa envolvente e brutal sobre os traumas vivenciados e passados adiante. Amanda vai enfrentar desafios cruéis e dolorosos pelas mãos daquela que devia ser seu porto seguro, mas é também lá que a menina descobrirá o poder do primeiro amor e a força necessária para superar qualquer obstáculo.



4 comentários

  1. Ronaldo!
    Acho tão importante um autor nacional que traz a realidade que nós da cidade grande, nunca vivemos e a partir daí, podemos entender mais como é a verdade de pessoas que moram em lugares inóspitos e tem apenas o sofrimento como experiência.
    cheirinhos
    Rudy

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  2. Uma bela resenha de um livro lindo! Parabéns!

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  3. Se só pela resenha eu me arrepiei, imagino lendo um livro tão visceral? Essa é o tipo de história nescessária para leitores mais fortes, que aceitam uma escrita crua e que precisa ser lida. Muita gente foge de livros assim, eu vejo de outra maneira, eu corro de encontro a histórias que me tiram da zona de conforto, nos joga numa realidade que pode ser comum a qualquer ser vivente.
    Histórias assim nos coloca no prumo, nos abre os olhos, e nos faz refletir.
    Só pela capa eu já criei curiosidade, depois de ver a sinopse já queria ler, mas depois dessa resenha "eu preciso/necessito dessa leitura" para ontem.
    Obrigada por me apresentar esse livro, Ronaldo. São por livros assim, e claro, os romances mais românticos que a Leninha resenha, que não paro de vir aqui. Posso até não comentar muito, mas anoto todas as dicas interessantes, e "Corpo Desfeito" é uma dessas. Amei.
    Beijinhos estalados!

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  4. Olá! Mais uma daquelas histórias que nos deixam em frangalhos, mas que também nos entregam uma grande lição de vida, acredito que a história da Amanda, facilmente poderia ser a história de uma conhecida próxima e essa proximidade deixa a leitura ainda mais especial, apesar de ter certeza que precisarei da caixa de lencinhos, espero ler em breve e me emocionar, aprender e tirar o melhor dessa história.

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