Recontar o passado é também inventar uma memória. É exercer, no livre território da imaginação (e da literatura), o papel de carrasco das palavras. Ainda mais em um livro de contos. E mais ainda em um livro de contos que fala sobre guerras.
Munir Charruf é, de longe, um dos meus autores favoritos. Se em "Lembranças" - primeiro livro seu que li - fiquei fascinado com a voz autoral única, em "Faces da Guerra" reafirmei minha admiração por sua capacidade inventiva, pelo seu modo de narrar, pelo manejo sensível do texto e suas nuances.
Aqui, os nove contos dão conta de pôr uma lupa em períodos históricos dolorosos, que jamais devem ser esquecidos - ou repetidos. O olhar, sobretudo individualizado, é o que particulariza a obra: acompanhamos soldados em trincheiras, noites escuras iluminadas por tiros e até uma partida de futebol que une dois povos 'inimigos'.
No conto que abre o livro já temos dimensão do que iremos encontrar - uma escolha acertada na organização da obra. A desumanização é expressão máxima em "Botas", na qual o sujeito, no fim, parece se reduzir a um par do calçado que continuará a deixar seu lastro de destruição.
Em "A pequena ponte", a história nos vem pela cadência de uma árvore centenária que vê o seu entorno ser massacrado; "As últimas janelas" explora uma Alemanha nazista através do som silencioso de vidros que cortam a noite; e em "Feliz Natal" (talvez o meu favorito), um jogo de futebol celebra uma trégua, uma pausa, coroando o reconhecimento da humanidade por trás de cada coração que pulsa na linha de tiro.
Tudo isso acompanhado por contextualizações históricas ricas, ao final de cada conto, que enriquece as narrativas.
"Faces da Guerra" mistura ficção e realidade em um livro que deixa o leitor sensibilizado, atento e angustiado. Faz refletir, mas, sobretudo, toca num lugar muito íntimo, que une todos nós, em qualquer lugar ou nação.
Boa leitura!
Com personagens que, através de seus medos, angústias e, principalmente, esperanças, conduzem o leitor e a leitora por narrativas de batalhas que foram determinantes para humanidade.Faces da Guerra mostra a perseverança das pessoas em sobreviver, a força necessária para se levantar a cada obstáculo e continuar lutando por si e pelos seus.E, como a um zoom cinematográfico, a perspectiva de conseguir contemplar os olhos do inimigo e enxergar-se neles.Descobrir o melhor de onde só se vislumbra o pior!
As guerras deixam tantas marcas. Não somente em quem as vive literalmente na carne, mas em quem a sente, vê ou aprende.
ResponderExcluirEu amo o tema, para não me esquecer por nenhum momento de um passado sombrio e infelizmente uma realidade sim, afinal, quantos e quantos países vivem em guerra mesmo a tecnologia e a tal humanidade evoluída?
Não entendo..mas já fiquei bem curiosa com o livro e esse sentir tanto essas dores!!!
Lembranças, passado..e aprendizado!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Ronaldo!
ResponderExcluirÉ uma época que temos de estar atentos por todas as atrocidades ocorridas.
Bom ver realidade misturada a ficção.
Se os contos trazem fatos, mesmo que dolorosos, porém bem escritos, vale à pena.
cheirinhos
Rudy
Olá! Eu adoro esse mistura de ficção e realidade e poder acompanhar por outras perspectivas, fatos tão importantes e infelizmente tão tristes que marcaram e marcam a todos, mesmo sendo um assunto tão difícil, acho muito necessário conhecer essa parte da nossa história, fiquei bem curiosa em relação aos contos.
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