Tim – Colleen McCullough


Esse foi o segundo livro sorteado para leitura no projeto: Desencalhando livros da estante, criado por mim para ler alguns livros que a muito me chamavam para serem lidos. E, claro, não poderia ter sido um livro fácil, tinha que ser Tim.
Quem não conhece o projeto e quiser saber do que estou falando dá uma conferida no Reels que postei lá no Instagram explicando direitinho. AQUI.

Agora vamos falar de Tim, um livro escrito em 1974 com todos os preconceitos, manias, costumes da época e, que de certa maneira me causaram muita estranheza. Só para início de conversa a palavra “retardado” doía nos meus olhos toda vez que era usado para se referir a Tim: um rapaz lindo, um deus grego mas, retardado, nossa como isso me deixava tensa. Mas, como sempre digo “se você vai ler um livro de época, ou um livro datado de muitos anos atrás deve-se tentar vivenciar a época da história, aceitar os costumes, a cultura, os absurdos, mesmo que isso às vezes nos deixa revoltados."

Algum ensinamento o livro irá nos trazer, e Tim me deu muitos tapas na cara, me deixou nervosa em certos momentos, ansiosa em outros, mas com um sorriso sempre presente a cada página virada. 

O personagem de Tim tem uma deficiência intelectual, mas apesar de sua digamos, incapacidade, ele trabalha, ajuda seus pais com o pouco dinheiro que ganha sendo ajudante de obras e é muito querido por todos, além de possuir uma beleza incrível, e foi essa beleza que chamou a atenção de Mary Horton, a solteirona rica de Artamon, bairro de classe média em Sidnei, Austrália. E o que começou como uma amizade se transformou num relacionamento único, julgados por alguns e apreciados por outros.

Mary e Tim são pessoas lindas de alma, bondosos, amorosos e solitários, ambos se completam e criam para o outro um lugar seguro. Um texto sensível, que vai se encaminhando para um amor puro, sem malícias de nenhuma das partes, apenas o amor da forma mais sublime, que aconteceu ao primeiro olhar, mas que foi crescendo ao longo do conhecimento, da convivência, de forma respeitosa e de uma delicadeza sem par.

O livro trata de um tema delicado, mas também polêmico. Nem todo mundo consegue ver o quão delicado por ser o relacionamento com uma pessoa com deficiência intelectual, eles podem conviver na sociedade sendo aceito com suas limitações, como também podem se isolar por causa do preconceito enraizado no ser humano, e Mary soube tratar Tim como ele realmente é: um homem adulto com limitações, mas que sabe amar, com a pureza de uma criança, mas com a forma de um adulto. 

Um livro lindo que deve ser apreciado, entendido na sua essência, e com certeza, respeitado. Eu recomendaria para todas as idades, mas acima de tudo para quem procura um livro doce e que traz uma lição encantadoramente singela sobre o amor. 
Apesar do final um tanto quanto abrupto, eu amei Tim de tal maneira, que, com certeza, lerei esse livro de novo.


Mary Horton, solteirona, na casa dos quarenta. Rica, porém simples e solitária, acredita não necessitar de amigos, tampouco de um amor. Vive bastante satisfeita em seu confortável lar com um amplo jardim e um imponente Bentley estacionado na garagem. Sem contar a casa de praia, que adquiriu com o fruto do seu trabalho e dos investimentos realizados. A literatura e a música ajudam-na a preencher a solidão. Mary não aspira a coisas que não conheceu.

Tim Melville, vinte e cinco anos, operário inexperiente, filho de Ron e Esme Melville, que o receberam como uma dádiva para o seu tardio casamento. Tem o rosto, o corpo e a graça de um deus grego. Embora belíssimo, está longe de possuir um intelecto em harmonia com o físico deslumbrante.

Todavia, Ron e Esme, operários simplórios, pessoas sensatas e sem ambição, o amam pelo que ele é. O casal o preparou para viver segundo as suas possibilidades. Tim é um sujeito insignificante que trabalha na construção, infatigável e bem mais esforçado do que os companheiros. Os dias de trabalho pesado e os fins de semana são passados com o pai num bar; as noites em casa, ao lado da família assistindo à televisão. Para ele, uma vida segura e tranquila.

Tim é tão maravilhoso de se admirar que Mary Horton não consegue acreditar nos próprios olhos ao vê-lo, pela primeira vez, trabalhando na reforma da casa ao lado. A vizinha, pessoa franca e de bom coração, foi quem a alertou tanto para a doçura quanto para as graves limitações do rapaz. Mesmo assim, Mary o contrata para trabalhar como seu jardineiro nos fins de semana e descobre que, usando apenas um pouco de delicadeza, é possível extrair tudo do rapaz. Isso é novo para ela, como também o é a afeição que sente, um tipo de sentimento maternal que destinaria ao filho que nunca teve. Tim também lhe ensina muitas coisas, entre outras a ver o verdadeiro mundo com olhos novos e otimistas.

Um idílio em que ambos dão e recebem muito, mas que infelizmente se modifica, como acontece com todos os idílios...

Uma história de singela e suave beleza, de inesperados acontecimentos que tanto tocarão os leitores como os surpreenderão.

8 comentários

  1. Leninha!
    A linguagem da época era bem diferente do que a de hoje.
    E como trabalhei com Psicologia, pude acompanhar toda evolução e mudança no linguajar e nas denominações, o que de certa forma, foi uma grande melhoria.
    Deve ser um livro sensível.
    cheirinhos
    Rudy

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    1. Causou um estranhamento maior a forma de tratamento, tipo: Miss e Mrs. Mas a sensibilidade da escrita da autora faz com que isso seja apenas um detalhe, dos mais bobos, rsrrs
      Uma história que lembrarei por muito tempo.
      Bjs, Rudy

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  2. Olá! Livro até então desconhecido por essa que vos escreve, mas que já tocou meu coração, como já estou um tanto quanto acostumada em ler alguns absurdos quando recorro a uma história da “Harlequin”, acho que vou tirar de letra essa diferença de tratamento e costumes por conta do ano em que se passa a história, aliás, fiquei bem curiosa, justamente por ser bem diferente das leituras que faço normalmente.

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    1. Certeza que apesar da escrita da época você vai amar o livro, Tim é um livro para não se esquecer.
      Beijos

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  3. Eu li esse livro no antigo colegial(atualmente ensino médio)kkk! Eu tinha em torno de 13 anos e hoje estou com 51 anos;

    i um dos livros que ficou na minha lembrança! Tentei achar ele na internet mas não lembrava o nome da autora!Agradeço de coração por vcs blogueiras de livros de romances existirem e nos proporcionarem momentos felizes de leitura!

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  4. Leninha, nossa! Eu acho que já tinha visto a capa desse livro, mas pelo que me recordo achava que era mais recente do que 1974. Como Terapeuta, acredito que algumas das palavras que usávamos/usamos hoje em dia trazem consigo uma gama de significados históricos das quais nem nos ligamos no dia a dia. Lembro-me que na escola era muito comum quando era adolescentes ver outros se chamarem de "retardados" quando alguém fazia uma gracinha ou outra, sem ele se darem conta do que de fato é um "retardo mental" ou um "retardado". Acontece que com o passar do tempo e da evolução linguística começamos a ver que certos termos não cabem e quando voltamos à livros antigos, no caso eu faço isso muito, nos deparamos com isso. Eu, posso afirmar, que ficaria tão incomodada como ficou, ainda mais quando há pessoas que realmente querem propagar o preconceito estigmatizando minorias com esse linguajar. Precisamos vencer cada dia mais essa mentalidade, e se um dos caminhos é pelas palavras que adjetivamos um sujeito, por que não começar pela literatura? Trazer à tona a importância de localizar os autores nessas pautas através da discussões de leitores e profissionais do meio como bookblogers. Também acho muito legal o papel dos tradutores, não sei se esse livro é internacional, mas se o for, por quê não uma edição focada em transformar essa escrita da autora com esses pequenos detalhes? Acho também linda essa sua percepção de mesmo ter algo "incomodante" no livro que lê buscar algo valioso em cada leitura que você compartilha conosco. Não é qualquer um que possui essa visão de mundo sobre realidade ou do mundo da ficção. Apesar disso, fiquei muito interessada nesta história e acredito que iria gostar muito de acompanhar esse casal se desenvolvendo já que não vi abordar um tema desse em um romance ainda. Obrigada pela indicação e pela resenha sincera. Cheirinho de livro novo.

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    1. Oi Lívia, só tirando uma dúvida sua, esse livro foi escrito e publicado em 1974, mas essa edição que eu li é de 2011, o livro tem várias edições com capas diferentes, mas o conteúdo é o mesmo, claro.
      Eu gosto quando o livro traz as expressões da época em que a história foi escrita, dá para saber assim como a sociedade era tão mais preconceituosa de um modo geral, na verdade não curto essas novas edições de livros antigos que mudam o linguajar usado na época. Incomoda, sim, incomoda, mas abre os olhos também.
      Obrigada pelo comentário.
      Bjokas

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