Em uma prosa que mistura autoficção e realismo mágico, Camila Sosa Villada oferece ao leitor um relato sensível, poderoso e real do seu cotidiano e do de suas amigas travestis no centro de Córdoba, uma das maiores cidades argentinas.
Guiada por sua memória, a autora destrincha os dias e, página a página, convida a adentrar essa obra, que surge de um blog que escrevia na época, mas se transforma em um presente constante que, ao mesmo tempo, desperta sentimentos adversos.
Não se poupa nada. Mesmo que bonita e sensível, essa narrativa também é dura, cruel, visceral. Acontece em nossas mãos como se fossemos também personagens da história (e não somos?), não apenas meros espectadores. E ela vai sendo tecida, escrita para tornar eterna uma voz que clama por ser ouvida.
Os movimentos de estrutura da obra são interessantíssimos e muito sagazes. Numa mistura de presente (que, de certa forma já é passado) em passado (sua infância), Camila, com maestria, apresenta personagens, constrói diálogos e espalha sentimentos de forma deliberada (vários!).
De Tia Encarna - a travesti que toma para si aquelas tantas outras ali do Parque e uma das figuras matriarcais mais poderosas da literatura, ouso dizer - à Passarinha - a travesti surda que, em determinado momento passa por uma transmutação impressionante e metaforicamente linda - temos demarcações de vida dessas personagens que as tornam, de fato, reais.
É um livro sobre inúmeras violências, sobre histórias de amor, sobre resiliência, irmandade e, acima de tudo, sobre essas vivências que somos impedidos a empurrar para a margem. Camila as coloca no centro e, por ser não apenas socialmente importante, como literariamente "única", deixa sua marca.
Mais que recomendado. Leiam!
Boa leitura!
Quando chegou à cidade de Córdoba para estudar na universidade, a autora argentina Camila Sosa Villada decidiu ir ao Parque Sarmiento durante a noite. Estava morta de medo, pensando que poderia se concretizar a qualquer momento o brutal veredito que havia escutado de seu pai: “Um dia vão bater nessa porta para me avisar que te encontraram morta, jogada numa vala”. Para ele, esse era o único destino possível para um rapaz que se vestia de mulher.Camila queria ver as famosas travestis do parque, e lá, diante daquelas mulheres e da difícil realidade a que são submetidas, foi imediatamente acolhida e sentiu, pela primeira vez em sua vida, que havia encontrado seu lugar de pertencimento no mundo.O romance O parque da irmãs magníficas é isso tudo: um rito de iniciação, um conto de fadas ou uma história de terror, o retrato de uma identidade de grupo, um manifesto explosivo, uma visita guiada à imaginação da autora. Nestas páginas convergem duas facetas da comunidade trans, facetas que fascinam e repelem sociedades no mundo inteiro: a fúria travesti e a festa que há em ser travesti.
Na resenha foi pontuado que a obra não poupa nada, que é uma narrativa dura, cruel e visceral, acho mais intenso quando é assim, parece que a história fica ainda mais vivida do que já é.
ResponderExcluirGostei bastante da premissa deste livro, eu não conhecia nem a edição e nem a autora, mas sem dúvida é uma obra que me chama a atenção.
Parabéns pela resenha.
Olá! Eita que a dica veio com tudo hein, a começar por essa capa maravilhosa, temos aqui umas daquelas leituras nada fáceis de encarar, aquela que incomoda, mas que se faz necessária, até mesmo, para entendermos melhor esse universo e passar a respeitar ainda mais essas pessoas.
ResponderExcluirQue dica mais surpreendente. Somos de fato, parte dessa história. Não das lutas, mas do medo que sempre existiu, dos maltratos, da morte, do perigo e da raiva.
ResponderExcluirO ser humano sempre foi cruel com quem é julgado "diferente", seja pela cor da pele, pelo peso, pela religião ou opção sexual, tudo no mesmo conjunto.
Fiquei dolorida com sua resenha e indicação, mas mesmo assim, senti muita vontade ler!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor
Ronaldo!
ResponderExcluirBem, imagino que poderemos conhecer um pouco mais todo esse universo trans, o que, pelo menos para mim, é fascinante e intrigante.
Pelo que entendi, é uma leitura dúbia, onde há dois lados no universo dos travestis, acredito que como tudo na vida, né?
Deve ser uma leitura muito boa.
cheirinhos
Rudy
Oi, Ronaldo
ResponderExcluirNão conhecia o livro, mas imagino que eu vá gostar.
Parece ser muito real, sensível, tocante e ao mesmo cruel.
Ver a vida dessas mulheres passando por tantos problemas, tantas dificuldades e privações.
Com certeza é uma história que precisa ser lida por todos! Precisamos abrir nossos olhos pra todos que sofrem a nossa volta.
Abraço