Todos os dias vivemos terremotos. É inevitável e de ordem humana: nem sempre terremotos, é verdade, às vezes pequenos deslocamentos, choques, tremores mínimos, diários, mas sempre atravessamentos, não há como negar.
Carne sísmica, primeiro livro de Lucas Ribeiro Rocha, lançado pela blague, não nega nada. Ao contrário, aceita toda a corporificação do fardo de existir e ser aberto ao suscetível. Quase uma reinvenção do modo de se colocar no papel, numa voz autoral que experimenta as várias versões que a arte poética possibilita, com suas lacunas, exigências, possibilidades.
Estava conversando com um amigo sobre como ler poesia nos reclama um modo menos convencional de leitura. Lê-se com tudo! Acredito que Carne Sísmica é um exemplo perfeito do jeito de adentrar nesse território.
É um livro visual, sonoro, receptivo e que tem um sentido de continuidade em cada brecha que os poemas deixam pelo caminho, num convite para que não sejamos indiferentes. Por isso não se pode lê-lo apenas com uma receptividade visual/intelectual; a poesia de Lucas requer nossa própria voz misturando-se com a dele, reclama nosso corpo, nosso tato, nossos sentidos como um 'completo'. O autor "enxada as raízes do mundo" e suas palavras "radicalizam a saúde" diante disso.
Daí o tal artesão de abismos. Daí a saudade que deixa quando termina. Daí as feridas que não dão conta de fechar, a política da arte que demanda um lugar nessa "periferia do capitalismo". Daí que não há como sair impune.
E a beleza é essa. Essa doação, esse convite à partilha, essa poesia que, claro, nasce da subjetividade dele, mas encontra a nossa e comemora uma razão - que nem sempre é conhecida num primeiro momento. Encontra-se Carne Sísmica para se perder. Leiam. Percam-se.
Boa leitura!
Ronaldo!
ResponderExcluirA leitura de um livro de poesias, pode trazer muitos sentimentos para o leitor, ainda mais sendo uma leitura visceral e que nos comove de todas as formas.
Deve ser um livro muito bom.
cheirinhos
Rudy
Olá! De fato, nos deparamos todo dia não só com o terremoto literal, mas também com o figurativo que nos cerca e chacoalha diariamente e mais uma vez me vejo encantada e curiosa com mais um livro que sem dúvida tem o poder de nos fazer refletir.
ResponderExcluirOi, Ronaldo
ResponderExcluirPoesia é uma coisa, né?!
Faz a gente refletir, se abrir, amar e até de detestar.
E esse livro parece ser bem assim. De tocar em feridas e no profundo. Nos virar de ponta cabeça e não nos deixar cair e permanecer na indiferença.
Já quero!
Bjs