Ana Paula Maia é uma escritora objetiva: com uma narrativa curta, crua e certeira, nos conduz por seus cenários banhados pela crueldade humana em seu estado mais brutal. Assim na terra como embaixo da terra é meu segundo contato com a autora e não diferente que o tão aclamado Enterre seus mortos, neste romance curto acompanhamos os dias finais de uma Colônia Penal, nos confins do mundo, em um lugar ermo, no meio de um pedaço vazio da existência.
Essa colônia isolada é um local do que nenhum preso jamais saiu vivo. Os “piores” são mandados para lá em um tipo de cumprimento que pagam com o corpo e a vida. Lá, os prisioneiros são submetidos às piores torturas e tem, preso ao tornozelo, um aparelho que explode ao menor passo para além dos murros. E é lá também que o agente carcerário que chefia a Colônia, tomado pela impetuosa loucura que paira no ar, executa um jogo de gato e rato com os prisioneiros.
Alegórico, o romance de Ana Paula Maia, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura em 2018, remonta uma Colônia Penal cuja ideia de penalidade ultrapassam todas as barreiras do conceito de justiça. Há críticas sociais em todos os elementos do livro: desde os diálogos travados entre os prisioneiros até a descrição minuciosa do encarceramento, da opressão e da própria estrutura arquitetônica do prédio que serve de prisão.
Com uma escrita que beira o cinematográfico (a autora também é roteirista, daí a característica), as cenas esboçadas pela autora, página a página, causam revolta, repulsa, incômodo. Não são poucas as vezes que há o detalhamento de uma violência que esbarra nas questões de moralidade do leitor.
Sem contar os paralelos que ela faz pela Colônia estar localiza em um local que, remotamente, serviu para castigar e matar pessoas escravizadas. A “aura” da Colônia é atravessada, muitas vezes, por essa obscuridade, um véu de horror que horroriza não apenas pela crueza da metáfora, mas pela realidade do nosso sistema carcerário?
Somos nós também responsáveis? O que fazer para quebrar os ciclos? Quem são os responsáveis? Qual o papel do Estado? Vigiar e punir? Punir pela morte? A vida de quem vale quanto?
Ana Paula Maia move as perguntas dentro de nós, nos oferece uma literatura escancarada, cheia de nuances, com personagens complexos e uma história estrutural e essencialmente forte e precisa. Uma leitura recomendada e necessária!
Boa leitura!
(Trazendo essa última dica do ano e não poderia ser de um livro melhor! Semana que vem temos outro encontro aqui, tá... adivinhem só, os meus favoritos do ano! – até lá)
Esta obra de Ana Paula Maia será lembrada como um instante de alta voltagem literária que desloca seu leitor de algum lugar confortável. – Marcia TiburiUma colônia penal isolada – um terreno com um histórico tenebroso de assassinato e tortura de escravos –, construída para ser um modelo de detenção do qual preso nenhum fugiria, torna-se campo de extermínio. Espécie de capitão do mato/carcereiro, Melquíades é o algoz dos presos, caçando e matando-os como animais, apenas por satisfação pessoal. Os presos, cada qual com sua história, estão sempre planejando a própria fuga, sem saber se vão acabar mortos pelos guardas ou pelo que os espera do lado de fora da Colônia.
Enterre seus mortos foi tão elogiado na época,mas ainda não tive oportunidade de conferir.
ResponderExcluirAí agora chego aqui e tem essa resenha fantástica de outro livro que tira a gente da caixa e nos coloca no olho do furacão.
Eu amo quando isso acontece. Ainda mais se tem essa "crueza" no enredo, essa realidade quase que palpável.
Já quero muito ler!!!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Ola
ResponderExcluirNáo conheço o trabalho da autora .mas eu sempre fico dividida se quero ou náo ler um livro onde mostra tantas cenas de crueldade mesmo que seja contra presos .Acho que é por ver já tanta violencia. A autora aborda questoes pertinentes como o sistema carcerario e está ai um asdunto que pouco conhecemos .
Mas acho que por conter essas cenas violentas eu deixo passar a dica dessa vez .No momento estou lendo livros mais leves.
Olá! Eita que fiquei aqui pensando, vai que um certo alguém que está no poder resolve pegar esse livro para ler hein... Deus me free! O enredo do livro chama a atenção de imediato e mesmo trazendo uma leitura mais difícil fiquei bem curiosa para conhecer mais da história.
ResponderExcluirRonaldo!
ResponderExcluirInteressante ver como os presos são tratados. Me pareceu que por estarem em um lugar longinquo, afastada e que teve uma passado tenebroso, quem comanda se acha no direito de fazer o que quer e maltratar os prisioneiros de lá.
E cadê a historia de reabilitar os prisioneiros para serem inseridos na sociedade após suas penas?
Acredito que a autora nos mostra questionamentos que deveríamos sempre fazer em relação a população encarcerada.
FELIZ NATAL!
cheirinhos
Rudy