Cachorro Velho é um romance visceral e preciso, afiado e significativo. Através de um personagem de mesmo nome, Teresa Cárdenas reconta histórias de dor e resistência, partindo de um microcosmos existencial para convidar o leitor a uma reflexão constante das inúmeras violências e privações sofridas pelo povo negro.
Pegando um Cachorro Velho em idade avançada, a autora percorre sua vida por uma narrativa memorialística, desde que nasceu, até o ponto onde a história de fato acontece – que na verdade é o tempo todo, em fluxos de passagem de tempo, contornando feridas nunca cicatrizadas e medos constantemente reafirmados.
Então vamos nós, levados pela oralidade de uma escrita objetiva e tocante, dura, mas não menos carregada de uma profundidade e singeleza sem tamanho. Conhecemos o personagem por vários outros e acessamos sua vida naquele engenho no qual nasceu e nunca partiu – e só partiria depois, em um destino catártico ao final do romance.
Apesar de curto, o livro da conta de passagens importantes da vida do protagonista, que exploram suas complexidades e sua própria formação – do nome que recebeu em uma tentativa de desumanizá-lo, dos inúmeros castigos sofridos, de uma redução de tudo: do corpo, do sentimento, da alma, da existência.
Mas por trás de Cachorro Velho há tantas vidas que a sua é mesmo emblemática. Na dúvida quanto à existência de uma África tão distante que só existe por ser recontada, de geração em geração, no poder da conexão com a natureza, na busca pela identificação, pela cura através das ervas, pelo espírito de comunidade.
A narrativa de Teresa Cárdenas é, sobretudo, sobre ancestralidade, memórias e potência: o ressoar de suas palavras ecoam pelos nossos espaços internos com uma habilidade assombrosa. Com frases, diálogos e silêncios, o livro perpassa muito bem uma dureza quebrada apenas pela ressignificância de coisas que parecem pequenas, mas são fundamentais para lembrar seus personagens de suas próprias humanidades.
Leitura recomendadíssima e importante. Em um mundo que cada vez mais carece de empatia, respeito e solidariedade, o triunfo de Cachorro Velho é fazer lembrar uma História que jamais pode ser esquecida.
Boa leitura!
Por toda a vida, Cachorro Velho foi escravo no engenho de açúcar do patrão. Seu corpo está velho e cansado, sua mente se perde frequentemente em recordações. Às vezes ele até imagina a própria morte, ou pelo menos o que significa estar longe, muito longe. Então, a velha escrava Beira lhe propõe ajudar Aísa, uma menina de dez anos, a fugir.
Escrito por uma descendente de escravos, Cachorro Velho é um retrato duro e comovente da desumanidade da escravidão. "O velho não temia o Inferno: tinha vivido nele desde sempre."
A escravidão foi abolida em Cuba em 1886, mas, como em tantos outros lugares, sua nódoa se manifesta no preconceito racial e na discriminação. Ganhador do Casa de las Américas, a mais alta honra literária de Cuba e um dos prêmios mais importantes do mundo de fala hispânica, este livro abalará profundamente os seus leitores.
Uau..que resenha! Eu nunca imaginei que o livro traria tanta dor, mas também tanta esperança de que toda a história do cachorro velho pode ser considerada também a nossa própria história.
ResponderExcluirHoje não estou num bom dia...o peso tá demais. Mas sei que tudo passa(até a uva)
Como não conhecia o livro, preciso sentir essa esperança em mim!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Ronaldo!
ResponderExcluirTão importante ver cada vez mais e mais livros que trazem a questão do preconceito e da escravidão, principalmente porque não vivemos tais fatos e ver os sentimentos demonstrados de forma tão visceral, se utilizando do protagonista Cachorro Velho assim denominado como se fosse pejorativo, é uma verdadeira lição de vida.
cheirinhos
Rudy
Olá! Nossa mais uma história para lá de tocante que tenho certeza mexe com a gente durante a leitura e sem dúvida nos faz repensar muitas das nossas ações, aquele tipo de leitura necessária, que ao fim nos torna melhores. Fiquei bem curiosa com a história e em qual será seu desfecho, por isso, é claro que o livro já faz parte da minha lista e espero ler em breve, ainda por trazer um tema tão pouco explorado.
ResponderExcluirOla
ResponderExcluirA crueldade do ser humano náo tem limites
O que deve ter acontecido de crueldade com os negros no periodo da escravidåo nunca vamos de fato saber
A começar pelo titulo que eu nem imaginava tratar se de um ser humano esse conto deve trazer profundas reflexoes em que faz a leitura
Um relato cruel do quanto o ser humano pode ser desumano cruel .otima resenha