Ela não é mulher pra casar, você diz. Ela bebe e se veste desse jeito que faz seus olhos atravessarem; ela vive casos de amor com os outros e consigo mesmas, tórridos casos; ela tem uma mania de querer ser dona do corpo; ela tem de tudo e faz de tudo para não ser uma mulher pra casar. Aí eu te pergunto: o que ela é? O que é uma mulher pra casar?
O título forte já traz, explicitamente, o teor narrativo de Vanessa Trajano. Mais que isso, delineia de forma precisa a força de sua narrativa e o contorno de seus breves contos: todos em se tratando de mulheres subvertendo a imposição social das suas vidas, dos seus corpos, de suas histórias.
O conto que dá título à coletânea é um dos meus favoritos justamente por resumir bem as motivações da autora em sua escrita; fala exatamente dessa desconstrução do que se normalmente tem como um modelo da mulher que cuida da casa, dos filhos, dos interesses do marido, daquele que tem medo de “se despertar”.
Vanessa Trajano nos coloca exatamente nesse ponto sublime da ironia e a usa muito bem: ao tempo em que se apodera deliberadamente de um tom zombeteiro para evidenciar os estereótipos de gênero, reclama do leitor sua própria reflexão a respeito do que se costuma entender dentro dessas atribuições patriarcais.
O trabalho é todo nesse sentido. Nenhum conto escapa a essa observação precisa, sempre em um tom que caminha tenuemente entre a denúncia das várias violências às quais as mulheres são constantemente submetidas e o humor ácido e preciso.
Em Paixão de Bar, outro excelente conto da coletânea, ela nos oferece o olhar de amor desperto em um segundo que se esvai – a loucura momentânea do sentimento (ou da atração). Os Bons Homens que tive acaba nos levando pelos labirintos da vida de uma mulher que insiste em se achar de menos para um homem impecável – até onde se sabe e até onde não se sabe (e depois ela nos oferece o que saber), aqui também nos instruindo intuitivamente por diálogos imprecisamente subversivas.
Enfim, um livro que se desdobra em infinitas camadas, conto a conto, história a história. Apesar de curto e com narrativas igualmente breves, a coletânea é uma verdadeira celebração e consagração do título. Mulheres pra casa. Donas de si, pertencentes ao mundo e vivendo histórias em espaços diferentes, porém coexistindo, interligados, sobretudo por essa condição: serem mulheres fortes, paridas por mãos hábeis de uma mulher que, imagino, igualmente forte.
LEIAM!
(Até sexta que vem e permaneçam em casa!)
O título por si só já é um convite à leitura né?
ResponderExcluirAinda não conhecia a obra, por isso,já fiquei encantada. Além de ser de contos, traz isso da mulher, que deveria existir apenas sendo mulher e muitas vezes, infelizmente, é tratada como a certa ou a errada.
Já vai para a listinha dos desejados com certeza e que continuemos sim, nos cuidando uns dos outros, mas também, deixando nosso Ser Mulher durar eternamente!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Ronaldo!
ResponderExcluirVou seguir sua dica e ler, adoro esses livros que descontroem um padrão imposto e quebra os paradigmas socias.
Sem contar que devem ser contos realistas.
cheirinhos
Rudy
Nossa, que livro forte! Adoro livros de contos e este fato deve dar um toque de leveza ao livro que pelo que parece, aborda temas polêmicos e controversos... Acertei?! Fiquei curiosa.
ResponderExcluirBeijo.
Olá! Eita que a leitura promete várias reflexões hein! Aquele tipo de leitura que motiva qualquer um e eu, para variar (risos), fiquei para lá de interessada, ainda mais sabendo que se trata de contos, o que tora a leitura ainda mais interessante, daquelas que a gente programa uma hora do dia exclusiva para isso e quem sabe traz aquele texto que nós tanto precisávamos ouvir (ler).
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