O Livro dos Abraços, do uruguaio Eduardo Galeano, é um sopro de calma dosado em pequenos fragmentos; mas não é só isso. É sobre como tudo é passível de sensibilidade se visto como tal; mas não é só sobre isso. É como se a beleza e a ternura se misturassem com a dor e o combate; mas está além disso também.
A prosa de Galeano, especialmente nesse livro, é sempre muito, porém sem excessos. O título do livro, por si só, nos serve como abertura para esperar o que de fato se encontra: vários abraços, vários afagos, várias trocas de carinho, reflexão e até um pouco de melancolia - que não soa descabida, é verdade.
Através de fragmentos da existência que observou (de dentro e de fora) o autor transcreve várias pequenas narrativas que sempre - ou quase - nos deixa pasmos com tamanha precisão. Precisão no que dizer, no que quer dizer e no como dizer. Por isso encanta, seja falando sobre o exílio, seja falando sobre o riso silencioso de uma criança. Tudo, no livro, é matéria de observação atenta.
E cada coisa parece transmutar na mão do leitor. Eu arriscaria dizer que o livro é "maleável", ele, com certeza, ressoará em você de modo diferente. Porque essa também é sua força de escrita: cada um de nós seremos tocados de um jeito porque temos nossas próprias experiências - que, inevitavelmente, se misturam com as do autor.
Não por acaso o livro também nos traz experiências visuais incríveis, com ilustrações que, por vezes, beiram a irrealidade e flertam com o absurdo - de uma maneira extremamente positiva. Logo, toda a tentativa de Galeano nesse livro é bem sucedida; e que bom que podemos ter acesso a isso.
O autor é bastante crítico a todo o processo de colonização da América (contexto presente em muitas de suas obras, algumas dedicadas inteiramente a isso) e, por mais que se proponha a ser um livro menos denso e mais sutil, essa não deixa de ser uma marca em O Livros dos Abraços.
E ele abraça a gente por isso e por tanto muito. Muito tudo, na verdade. Como a vida deve ser, cheia de cicatrizes, fissuras e momentos de felicidade sublime.
É bonito ler Galeano e, mais bonito que isso, se perceber capaz de compreendê-lo.
Boa leitura!
Tratar a memória - sua memória pessoal e a nossa memória coletiva, da América - como coisa viva, bicho inquieto: assim faz Eduardo Galeano quando escreve. Ele mostra que a história pode - e deve - ser contada a partir de pequenos momentos, aqueles que sacodem a alma da gente sem a grandiloquência dos heroísmos de gelo, mas com a grandeza da vida.
Assim é O livros dos abraços. EM suas andanças incessantes de caçador de histórias, Galeano vai ouvindo tudo. O que de melhor ouve ele transforma em livros como este, onde lebra como são grandes os pequenos momentos e como eles vão se abraçando, traçando a vida.
"A memória viva", diz Galeano, "nasce a cada dia". Ele diz e demonstra em livros como As veias da América Latina, Dias e noites de amor e de guerra, a trilogia Memórias do Fogo, Bocas do tempo, Palavras andantes, Futebol ao sol e à sombra e neste O livro dos abraços. Nada que possa ser dito é capaz de chegar perto da beleza e da emoção que estas páginas contêm. Abra este livro com cuidado: ele é delicado e afiado como a própria vida. Pode afagar, pode cortar. Mas seja como for, como a própria vida, vale a pena.
Ah como eu amo enredos assim, que chegam de mansinho e nos abraçam! O título da obra já é um convite, a abraçarmos a vida e com isso, a nós mesmos!
ResponderExcluirAinda não conheço as letras do autor, mas já deu aquela vontade de conhecer não somente este livro,mas outros mais!
A vida é um eterno abraçar!
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Oi Ronaldo. Eu tentei ler este livro há uns 10 anos atrás, não consegui, mas acho que isso vai muito de momento, talvez aquele não fosse o meu momento. Hoje já mais madura, acredito que esteja preparada para a leitura. Tenho o livro em casa, uma edição da L&M Pocket e é muito bonita, sou apaixonada pela capa dele. Quero me encantar com a leitura assim como você se encantou...
ResponderExcluirUm abraço.
Ronaldo!
ResponderExcluirTive oportunidade de ler um livro do autor quando fazia faculdade e ele sempre mostra sua grande paixão por mostrar o quanto a sociedade se une e trabalha de forma diferenciada de acordo com as vivências pessoais e do local onde se vive.
E acredtio que é justamente por isso que ele toca nossos corações de alguma forma e há uma identificação.
cheirinhos
Rudy
Olá! Confesso que ainda não conheço a escrita do autor, mas depois de uma resenha dessas, mas um título desses fica difícil não querer ler (risos). Está sendo bem bacana conhecer esses novos autores e histórias, que talvez, passassem batidos em um primeiro momento por mim.
ResponderExcluirLogo no começo da sinopse quando eu vi que o autor era uruguaio me despertou muita atenção porque um dos meus objetivos para 2020 é ler mais autores que não sejam Ingleses ou americanos e fazer um tipo de copa do mundo de literatura kkk. Mas pelo que eu vi da história do livro ele é mais voltado para poesia e esse é um gênero que não consegue me prender pois eu não tenho a alma sensível necessária para se interpretar poemas e certas metáforas mas aparenta ser um ótimo livro
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