Conheço a obra de Agatha Christie desde que tenho 14 anos. De lá para cá foram muitas leituras, muitos livros e muitas histórias contadas e ouvidas. Atravessei algumas obras da autora, reli outras do gênero, mas sempre, sempre essa foi uma das minhas favoritas – tanto pela narrativa ágil e dinâmica quanto pela própria resolução do mistério.
Assassinato no expresso de oriente é uma história para se ler com os olhos bem abertos e os ouvidos bem atentos. Aliás, toda e qualquer obra da autora, mas digo essa especialmente, tanto pelo sentimento de nostalgia – foi uma releitura e pude sentir o mesmo gostinho da primeira vez – quanto pela percepção de novas funções de sentido que eu não tinha reparado antes.
Em resumo o livro trata de um assassinato cometido em um trem parado numa nevasca. Doze passageiros do vagão suspeitos. Poucos indícios. Quase nenhum parecendo se enquadrar no perfil de assassino. Mas, mesmo que uma coisa não seja contada, mesmo que um fato seja omitido, mesmo que lhe falte algum pedaço, há sempre algo por trás.
E quem é o responsável por desvendar o mistério? – tambores! – o nosso egocêntrico, falastrão e adorável Hercule Poirot (talvez o mais conhecido e amado detetive criado pela Agatha). O personagem é conhecido pelo jeitão observador e pela inteligência e percepção apuradas, mas o mistério desse livro parece tão bem articulado que até o leitor mais acostumado com as resoluções propostas pela autora desconfia que dos males o menor, o final do livro se desmanchará em uma solução pouco engenhosa.
Engano, engano, engano... Não diferente de outras obras da autora, a solução para o mistério desenvolto nas quase duzentas páginas puxa a orelha do leitor como se o repreendesse. Digo isso porque a sensação de vigilância constante que precisamos assumir sempre que pegamos uma obra da Agatha parece algo inevitável. Tão inevitável quanto nossa surpresa com seus finais.
Os fios emaranhados em todo o mistério que se constrói em Assassinato no expresso do oriente parecem demasiadamente soltos – embora não estejam. A narrativa rápida, pouco descritiva e mais dialógica parece estabelecer com o leitor um pacto silencioso de “preste atenção em cada detalhe, observe cada pista e resolva o mistério comigo”. Sinto que é um convite.
Gosto especialmente dessa obra da Christie porque tenho a sensação de que ela é uma das melhores faces da autora e do Poirot. A trama é engenhosa, ambiciosa e se cumpre ao que propõe: conta um caso, revela um fato e deixa nas mãos de quem lê um coração palpitante e um sorriso discreto e dissimulado, assentido pelo rosto do leitor que se dá conta de que foi enganado a narrativa inteira – de uma maneira boa, muito boa.
É essa enganação boa que faz da obra um feito singular. A autora brinca com as palavras e parece ter um dom único de, ao mesmo tempo, prender o leitor em suas páginas e fazê-lo seguir em frente acreditando em uma coisa para, ao virar as últimas páginas, ser surpreendido por uma reviravolta quase inacreditável – mas de uma inquestionabilidade verossímil.
Leiam. Se surpreendam. E, sempre se desafiem a descobrir o final da trama antes que ele seja escrito.
Nada menos que um telegrama aguarda Hercule Poirot na recepção do hotel em que se hospedaria, na Turquia, requisitando seu retorno imediato a Londres. O detetive belga, então, embarca às pressas no Expresso do Oriente, inesperadamente lotado para aquela época do ano.
O trem expresso, porém, é detido a meio caminho da Iugoslávia por uma forte nevasca, e um passageiro com muitos inimigos é brutalmente assassinado durante a madrugada. Caberá a Poirot descobrir quem entre os passageiros teria sido capaz de tamanha atrocidade, antes que o criminoso volte a atacar ou escape de suas mãos.
Ronaldo!
ResponderExcluirTambém li esse e outros livros da autora ainda na adolescência e se passaram mais de 35 anos, agora estou fazendo a releitura deles e este está entre eles, espero poder apreciar uma vez mais a maneira genial que a autora desenvolve seus enredos e a forma como elucida os crimes.
Que dezembro seja repleto de realizações e o final de semana cheio de luz e paz!
“Dentre os mais dignos predicados de um homem está o de saber dizer a verdade.” (Renato Kehl)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!
Queria ler antes do filme mas como recebi um super spoiler vou ler só lá na frente e ver o filme agora.
ResponderExcluirIrei admitir uma coisa da qual tenho bastante vergonha, nunca li nenhuma obra desta autora, por isto não sei muito sobre o detetive, que se encontra disposto a descobrir a respeito deste assassinato, muito menos a forma como ela conduz este tipo de investigação. Porém e notório pela sua resenha que o desenvolvimento desta estória e muito bem elaborado, capaz de prender o leitor, e nos fazer suspeita de tudo e qualquer pessoa, por isto precisamos estar de olhos, e ouvidos bem atento aos detalhes, que são sempre essenciais. Enfim, sua resenha foi genial, e me despertou interesse e vontade de dar uma chance e esta obra em especial. Confesso que me peguei entusiasmada em me aventurar nesta nova perspectivava. Espero não me decepcionar.
ResponderExcluirSORTEIO NO AR, VENHAM PARTICIPAR: petalasdeliberdade.blogspot.com.br