Uma história, por si, já é complexa à sua maneira. Foi pensada por um autor, escrita, revisada e, só depois, publicada. Há quem diga que escrever contos é mais difícil – tanto pela resolução do enredo ser premedita em um espaço menor, quanto pela dificuldade de amarrar os pontos de uma história iniciada em poucas páginas. Agora imagine a recriação de um conto. A recontagem de um conto por um outro autor, em uma nova abordagem e com uma perspectiva diferente – seja de tempo, espaço ou personagem.
Uns e Outros é isso. Não tem autoria única, foi escrito a 40 mãos. 10 autores clássicos. 10 autores contemporâneos. A coletânea foi lançamento de aniversário do clube de leitura TAG e, embora não seja inovadora, surpreende pelas qualidades das recriações. O livro é bom e vale tanto pelos contos clássicos – desde Machado de Assis, passando por Clarice Lispector e indo até Tolstói e Katherine Mansfield – quanto pelos contemporâneos.
E os contemporâneos? Temos Eliane Brum, Milton Hatoum, passando por Ana Maria Machado e Maria Valéria Rezende, para citar alguns – escolhidos aleatoriamente a cargo de exemplificação. Trocando em miúdos: é uma galera muito boa reescrevendo contos de outra galera muito boa. O resultado não poderia ser menos que muito bom.
É difícil falar de um livro de contos de maneira geral porque todos parecem ser fragmentos colados através de uma lombada – logo, é difícil formar uma opinião positiva ou negativa acerca da obra como um todo. Mas, quando digo que Uns e Outros é bom, quero dizer exatamente que dentre suas diferenças, os autores que recriaram os contos o souberam fazer de maneira bastante eficiente – muitos devendo nada aos contos originais.
Obviamente que há histórias para se gostar mais do que de outros – e isso vale exclusivamente pela interação que o leitor terá com cada história, porém – porém, o livro parece se reinventar, trazer abordagens eu diria sequer imagináveis até para os leitores que já tinham lido os originais. Sem contar que a edição está linda, capa dura, relevo no nome; faz jus a proposta e às histórias contadas.
Confesso que tenho certo receio com recriação de histórias porque parece que os autores que já viraram clássico são quase irretocáveis, tamanho o legado que deixaram. Acho que a experiência com Uns e Outros me proporcionou uma visão para outras possibilidades de leitura, outras maneiras de interação, novas formas de enxergar em uma recontagem detalhes escapados da história original.
Bônus track – ou uma última coisinha antes de acabar
Não é merchan, o Sempre Romântica tá ganhando um total de 0 reais para isso, mas o interessante de Uns e Outros – e de todos os livros da TAG – é que eles sempre vêm com revistinhas que contam como suplemento de leitura. Acaba que a experiência se torna mais enriquecedora!
A ideia do livro foi que dez autores lusófonos escolhessem um conto cada, de um autor considerado clássico, para servir de inspiração para uma releitura original. Desta forma, o debate vai girar em torno das influências literárias, do processo de recriação de obras clássicas e dos efeitos do espelhamento resultante dessa experiência.
Ronaldo!
ResponderExcluirJá eu gosto muito dde releituras, justamente por não saber o que o autor fará de mudanças em relação a história original.
E com contos de clássicos da nossa literatura, deve ser ainda ais interessante, porque cada um tem sua forma peculiar de escrita.
Fiquei bem curiosa.
Desejo um ótimo final de semana!
“ Lança o saber e não terás tristeza.” (Lao-Tsé)
cheirinhos
Rudy
TOP COMENTARISTA novembro 3 livros, 3 ganhadores, participem!
Oi Ronaldo!
ResponderExcluirVou ter que ser sincera, fico com o pé atrás nesse caso, primeiro porque não sou fã de contos e - sem querer julgar antecipadamente - os autores terão que mandar muito bem! Claro, o projeto é sem dúvidas maravilhoso e os que tiveram a ideia e irão participar, meus parabéns, vão dar um toque a mais a algo que já é clássico! Espero que traga um pouco mais sobre ele para conhecermos, quem sabe assim não mudo minha ideia?!
Beijos!!