Olá meu povo, já imaginou como seria a vida de um grande mago na juventude? Tipo um Merlin, Galdalf ou Dumbledore. Como teria sido o treinamento para terem se tornado tão poderosos e o mais importante, quais tipos de erros cometeram para aprender com a experiência e virem a ser tão sábios? Bom, alguns irão dizer: o Gandalf já surgiu velho, ok, mas a provocação vale para os demais, e com essa provocação eu os convido a mergulhar no mar de O feiticeiro de Terramar, de Ursula K. Le Guin.
Hoje o mercado literário está abarrotado de livros sobre fantasia, esse gênero é tão forte em nosso país, que muitos dos novos escritores se aventuram nele para sua primeira publicação e muito disso, devemos ao grande sucesso mundial de Harry Potter, precisamos reconhecer isso. Porém, não devemos nos esquecer a fonte da qual a própria J. K. Rowling bebeu para sua história de sucesso, os clássicos livros que introduziram a magia na literatura de maneira aventureira, e entre esses autores está Ursula K. Le Guin.
O feiticeiro de Terramar foi publicado, originalmente, em 1968, então não pensem se tratar de um livro vazio e cheio de clichês como muitos por aí, longe disso. Ele traz elementos substanciais para os dias de hoje no que se refere ao gênero. Um bom exemplo é a explicação sobre a magia, algo que eu não me lembro de muitos autores de sucesso explorar, sejam os de ontem ou os atuais. Essa autora tem o cuidado de explicar o sentido e significado da magia, de forma direta e convincente, e para mim, faz muito sentido do ponto de vista prático. Pois os magos constantemente podem se ferir com sua própria magia. Outro ponto forte dessa explicação é o ato de nomear as coisas ou recitar seu nome real, sejam de pessoas, coisas ou seres, com isso o mago ou feiticeiro exercesse certo poder sobre elas. É claro que a explicação vai muito além disso, mas não me debruçarei aqui sobre ela, porém, há uma passagem em específico que me fez lembrar do desenho antigo, Caverna do dragão, dos clássicos RPGs, não sei se muitos que assistiram vão se lembrar. É o episódio que o Mestre dos Magos torna o Eric num “Mestre dos Magos” para ele saber da responsabilidade em se usar a magia. Nessa ocasião o velhinho explica ao afobado cavaleiro que para cada ação existe uma reação ao se realizar um feito mágico (nada que a química e a física não nos explique sobre efeito e contra efeito), e que quando uma magia é realizada, ela terá efeito contrário em outro lugar, no livro isso é explicado de forma mais consistente e gostei bastante dessa passagem, muitos outros trechos também me remeteram ao Silmarillion de Tolkien, é o caso quando se falava dos feitos dos grandes homens de outras eras. Mas vamos ao que interessa, a história.
Ged é um garoto que nasceu numa ilhota criado pela tia bruxa, na verdade, os magos, feiticeiros e bruxas, consistem num membro importante para a comunidade, tendo em vista que nesse mundo, a magia é quase uma moeda de troca, e os que possuem o dom de manipulá-las exerce a função como profissão e modo de subsistência. O garoto ficou impressionado com o poder da tia que se incomodou com as cabras que estavam sobre seu telhado perturbando e com uma frase as fez descerem em total obediência. A partir de então, Ged se interessa pela arte mágica.
Filho de um ferreiro bronco e sem mãe, ele passava a maior parte do tempo brincando com os amigos, e após descobrir encantamentos começou a se divertir com eles, fazendo inveja aos amiguinhos de mesma idade, nessa época ele tinha por volta dos oito anos. A tia percebeu desde muito cedo que o garoto possuía potencial para a arte mágica e lhe ensinava tudo que sabia, o que não era muito. Quando alcançou a pré-adolescência, a ilha em que vivia foi atacada por selvagens de outras bandas e intuitivamente o garoto salva sua comunidade com uma magia que não lhe foi ensinada, ganhando fama entre outras terras. Observação importante, a geografia desse mundo é constituída praticamente por ilhas, mas sobre isso falarei um pouco mais adiante.
A fama do feito levou até ele o mago Ogion, conhecido pelo seu poder e sabedoria e o tomou como aprendiz, para posteriormente lhe recomendar a principal escola de magia do arquipélago. Lá, Ged encontrou amigos e principalmente um rival, Jasper, outro garoto de mesma idade com quem não se dava bem; e num ato de vaidade e inveja, Ged usou em certa ocasião um tipo de magia proibida, a invocação de mortos, o que desse ponto em diante se torna a linha mestra da história e não direi mais nada para não prejudicar a experiência de ninguém que tenha interesse em lê-lo.
O arquétipo aqui é do herói que busca conhecimento para sobrepujar o mal e conhecer seus próprios limites, Ged se torna um jovem com feridas físicas e espirituais e sua jornada é guiada pela dor do erro, medo e esperança; e vemos aos poucos o jovem imprudente se tornando sábio e corajoso, numa passagem em que enfrenta vários dragões fica muito evidente essa evolução. Não podemos desmerecer o papel do antigo mestre e do amigo Vecht, outro mago poucos anos mais velho que ele que o ajuda a amadurecer. A explicação mitológica da história é fascinante, ao mesmo tempo em que alertam os magos dos perigos das magias de transformação ao se metamorfosearem em outras criaturas, muito sutil e bacana, ponto para escritora.
O livro é narrado em terceira pessoa, e em alguns momentos se torna cansativo não pela história em si, que é muito envolvente, mas pela geografia do mundo. Como os cenários são basicamente ilhas e mar, quando começa as explicações do processo de navegação e os dados cartográficos fica um pouco enfadonha, mas nada que prejudique seu entendimento por não ser muito extenso. Talvez seja apenas minha impressão. Mas logo inicia outra cena mais interessante relacionado à magia e a história engata novamente.
Como sempre gosto de fazer em minhas resenhas, vamos para a leitura de inferência. Essa autora é uma das minhas favoritas pela coragem em escolher suas personagens, como vimos também em A mão esquerda da escuridão, nesse livro, o personagem principal também é de pele escura. Aliás, em O feiticeiro de Terramar, quase todas as personagens são de pele escura, “cobre encorpado” como é dito sobre Ged ou negros, no caso de seu amigo, Vetch e seu mestre. Isso não é bobagem, mesmo em nossos dias, onde o mundo questiona os filmes por terem tão poucas minorias representadas, essa era uma tarefa quase suicida em termos profissionais na época em que foi escrito, nos idos de sessenta. Pois numa época em que lutas maciças, principalmente, nos Estados Unidos contra cerceamento de direitos da população negra e o Apartheid, na África do Sul, é de fato muito corajoso; e se fazer reconhecida, era uma tarefa quase improvável. Mas a genialidade da autora falou mais alto nesse e em outros livros que ousou a não limitar o mundo com personagens de pele branca e olhos azuis.
O feiticeiro de Terramar é uma leitura rápida e prazerosa, para quem gosta ou está interessado em começar a ler fantasia, está aqui uma boa dica. A editora Arqueiro lançou recentemente esse livro, que constitui o primeiro, com subtítulo de CICLO DE TERRAMAR – Livro I, esperamos que as outras histórias desse universo sejam publicadas.
Espero que tenham gostado.
See you in space.
Adorei a resenha. Nunca li nada da autora, mas como amo fantasia e fiquei intrigada com sua resenha, vou ver se consigo comprá-lo para ler.
ResponderExcluirAdorei a Inferência.
Bjos!!!
Oi Andréia. Tenho certeza que você vai gostar bastante.
ResponderExcluirKoudan!
ResponderExcluirAdorava assistir A Caverna do Dragão, um dos meus desenhos favoritos.
Acompanho a autora há muitos anos, na verdade, na adolescência, foi minha companheira e li A mão esquerda da escuridão também. Por incrível que pareça, não li ainda O feiticeiro de terramar e fiquei bem empolgada.
Obrigada por sua opinião.
“Prefiro os erros do entusiasmo à indiferença da sabedoria.” (Anatole France)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
TOP Comentarista de OUTUBRO com 3 livros + BRINDES e 3 ganhadores, participem!