Olá pessoal, espero que gostem da combinação fantasia e romance, porque hoje vamos falar sobre A Rainha Vermelha, de Victoria Aveyard.
Começarei sobre a história e depois falarei sobre alguns aspectos técnicos e sobre minha impressão geral desse primeiro livro da trilogia, que está em sua 6º impressão pelo selo jovem, SEGUINTE, da editora Companhia das Letras, e conta com a ótima tradução de Cristian Clemente, além do belíssimo trabalho de capa e contracapa e ser muito bem revisado. Dito isso, vamos lá!
Norta é um reino liderado por uma casta de seres humanos supostamente superiores autointitulados como prateados, dotados de poderes extraordinários que oprime outra casta menos favorecida, conhecida como vermelhos. As denominações de ambos os povos são oriundas da coloração de seus sangues, assim, sua origem o definirá se você nasceu para ser oprimido ou não, grosso modo.
Como é de se esperar entre oprimidos e opressores, as delineações de cada um devem ser acentuadas e começamos pela realidade de Mare Barrow, uma ladra de dezessete anos de uma família pobre de Palafitas, um vilarejo onde suas casas são erguidas nesse tipo de estrutura. Por não ter aprendido um ofício, como sua irmã Giza, costureira, passa os dias roubando para ajudar o sustento de uma vida miserável com sua mãe, pai deficiente e sua irmã. A jovem possui irmãos que servem na guerra, aliás, todos ao completarem dezoito anos são obrigados a servir, independentes se homens ou mulheres.
A reviravolta em sua vida de ladina se dá quando ela tenta roubar um jovem misterioso, e os eventos seguintes mudam radicalmente sua condição social e seu conceito sobre si, tanto de seu próprio ponto de vista, quanto do status quo estabelecido nessa sociedade, ao se descobrir e ser descoberta diferente dos de sua “raça”, os vermelhos, se assemelhando aos prateados, dotados de poderes especiais. A novidade à leva numa vida nunca antes imaginada numa corte exuberante e cheia de intrigas palacianas e mistério a ser resolvido sobre a família real e seus descendentes, e quiçá, a sua própria origem. A vida luxuosa parece incomodá-la por sempre está pensando em sua família necessitada, pois é elevada de garota miserável à princesa de uma casa extinta.
Entre os personagens da trama estão os dois príncipes, Cal (dezenove anos) e Maven (dezessete anos), ambos dominadores de fogo, entre outras personagens poderosas que surgirão no decorrer da história, como sua rival Evangeline, com poderes magnéticos. O enredo dar a conta-gotas, informações sobre a misteriosa morte da rainha anterior e o porquê Mare Barrow é diferente dos outros vermelhos com seus poderes elétricos formidáveis. Nesse ínterim, conhecemos um pouco mais sobre os anseios da jovem que se envolve num quadrilátero amoroso entre os dois príncipes e um antigo amigo de Palafitas, Kilorn. Tudo sem passar despercebido pela poderosa rainha Elara, uma “murmuradora”, nome dado àqueles que possuem poderes mentais capazes de ler mentes e controlar parcialmente o corpo de uma pessoa. Essa rainha busca fervorosamente junto ao seu rei, a destruição de um grupo rebelde conhecido como Guarda Escarlate, liderado, a que tudo indica, por uma mulher de nome Farley, que tem como bandeira, a igualdade entre vermelhos e prateados.
Mare fará algumas amizades importantes na corte e determinante para entender sobre si e sua condição recém-descoberta, uma das pessoas que a ajudará nesse processo, será um velho misterioso de nome Julian, da raça dos prateados com poderes mentais e conhecedor de segredos palacianos, que nutre pela jovem de sangue vermelho simpatia e admiração.
A história é narrada em primeira pessoa, sob o ponto de vista de Mare, eu vi nisso um problema, que seria a limitação de exploração de um cenário grande e complexo, pois tratar de diferenças sociais de casta, senhor ou servo, nunca é algo simplório, mesmo em se tratando de ficção. A separação por núcleose ponto de vista de narração, possivelmente tornaria a história mais instigante, menos monótona e pouco “canastrona”, por parte da narradora em alguns pontos.
Talvez se narrado em terceira pessoa, surtiria uma impressão diferente e deixaria claro, por exemplo, que o reino onde se passa a história não é medieval, e a que tudo indica, não é em nosso mundo, embora a primeira vista, somos inclinados a assim pensar, devido às características desse gênero e levando em consideração a menção de vilarejo e reinado. E só adiante é que teremos uma ideia mais completa do cenário, quando eventos importantes já aconteceram, mas antes disso, minha mente vagueava a procura de uma imagem de mundo para se ancorar, devido à falta de elementos numa ambientação um pouco mais cuidadosa lá no início, que não fosse tão localizada, que me situasse no todo e em suas possibilidades tecnológicas.
Isso me incomodou, porque ler um livro não é igual a assistir a um filme ou série ou ler um quadrinho, em que serão trabalhados os aspectos visuais e muitas das vezes, não será necessário essa explicação, e ainda sim, muitos o fazem. Todo leitor precisa ser situado no mundo que ele aceitou entrar de cabeça ao ler um livro, muito mais que um aspecto técnico da escrita, é um recurso didático que torna a história mais crível no processo narrativo e imaginativo.
Outrossim, a constante menção de uma guerra que ocorre há centenas de anos, padece de elementos narrativos e culturais que corroboraria seu acontecimento (mesmo sendo uma mentira a ser revelada mais adiante - hipótese) para que o leitor compreenda as nuances de cada região e povo, e não é dita em momento algum, praticamente nada sobre seus inimigos e seu propósito, a não ser o óbvio – a conquista.
O livro possui mais de quatrocentas páginas para uma história linear sem muitos solavancos e com poucas reviravoltas, outro problema da narração em primeira pessoa, e nesse caso, a meu ver, por uma questão do estilo da própria autora. Pois fiquei com a sensação de que a trama evolui pouco ou quase nada, em suma, são muitas páginas para se dizer tão pouco.
Entendam, é perfeitamente possível se escrever política ou romance ambientado em cenários turbulentos em primeira pessoa, um exemplo é a ótima coleção Os Senhores de Roma, de Allan Massie, que cada imperador narra intrigas da corte, política, emoções e devaneios, o que a autora aqui, não conseguiu me convencer.
Antes de finalizar, farei a leitura de inferência possível nesse caso. O que percebi foram vários recortes de elementos da cultura pop que sobressai mais que a própria originalidade da obra: os elementos de dobra d’água e de fogo de Avatar, a lenda de Aang e a Lenda de Korra; os velhos dilemas dos quadrinhos como a dos mutantes em X-men, nas histórias da Marvel; um quê de Game of Trhones entre outros. Não há pecado em aproveitar ideias disseminadas em histórias de outras mídias ou da própria literatura, até porque nosso estágio de produção de entretenimento em sua maioria é uma releitura do que já foi dito, todavia, a forma como se diz, é onde residirá a criatividade e originalidade do autor e sua capacidade persuasiva. Nesse aspecto, A Rainha Vermelha me mostrou mais estereótipos e clichês que personagens imersivos e convincentes.
É claro que tudo isso é minha opinião, o que não impede você que gosta desse gênero de conferir essa história de amor e secção racial, o que sempre será um bom tema principal ou de fundo em qualquer época.
A jovem autora possui algumas qualidades que eu aprecio, como uma escrita ágil, clara e boas descrições de cenas de ação, ela está antenada aos anseios jovens de sua época o que torna seu livro possível. Considero esses aspectos importantes para qualquer literatura, sobretudo em se tratando de fantasia, que abarca muito de nosso público jovem. Outro ponto importantíssimo, esse não posso deixar de mencioná-lo, é sobre a personagem principal ser uma mulher e tida como inferior por um estrato social que ela combate. Eu particularmente gosto muito de personagens femininas fortes, nessa época em que estamos carentes dessas heroínas, talvez valha à pena conferir A Rainha Vermelha no intuito de se discutir mais os resquícios opressores contra a mulher em nossa sociedade.
Digam aí o que vocês acharam, se concordam ou não, toda crítica é bem vinda.
See ya.
Koudan!
ResponderExcluirFoi um dos melhores livros de distopia que pude ler no ano passado e espero ter a oportunidade de ler todos os livros da série.
Gostei“Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência.” (Santo Agostinho)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
muito de cada detalhe de sua resenha, parabéns!
Obrigado Rudynalva e até a próxima.
ResponderExcluirOlá, Koudan!
ResponderExcluirO que você falou do problema da narrativa em primeira pessoa de A Rainha Vermelha não é uma situação só desde livro, mas de grande parte dos livros de fantasia e distopia voltados para o público jovem, sendo repetitivamente usados nos livros como se fosse um ingrediente super importante de uma "receita de bolo" para um livro de sucesso. É como se todos os autores que escrevem para o público jovem pensassem que se um livro que fez um grande sucesso comercial, como Jogos Vorazes por exemplo, utiliza a narração em primeira pessoa, todos os livros tem que ser em primeira pessoa para fazerem sucesso. Sei que parte desse pensamento também vem do imaginário que o uso da narração em primeira pessoa é que cria a identificação entre personagem e leitor, pois dá a sensação de que o personagem se abre para ele ao contar o que viveu. Mas, a identificação entre personagem e leitor vem da própria experiência de leitura, independente da narração usada, o que permite até mesmo que haja identificação com um personagem de um livro narrado na 3ª pessoa. A narração de um livro deve ser escolhida de acordo com o que queremos transmitir na história e não por causa de um regra de sucesso, pois cada livro é um livro e não deveria se ater a fórmulas de sucesso.
Por fim, em meio a essa aglutinação de elementos da cultura pop em A Rainha Vermelha, penso que a trama tem uma leve inspiração na velha lenda de que os nobres tinham sangue azul. Mas imagino se nos próximos volumes da série,fosse derrubado a história que os poderes advém do sangue e que no passado alguém utilizou os tipos de sangue para segregar e criar um racismo entre os sangues vermelhos e prateados. Seria uma ideia a ser explorada que poderia até mesmo gerar a reflexão de como as opressões entre povos que também ocorre na vida real e tornaria o livro um motivo para discutir mais sobre isso.
Um abraço!