Hoje o blog Sempre Romântica tem o prazer de receber a autora do livro Primeiras Impressões, Laís Rodrigues de Oliveira. Para quem não conhece o livro veja a resenha AQUI e saiba um pouco mais sobre o seu trabalho.
Laís foi um amor em parar seu trabalho e tirar um tempo para responder a perguntinhas que fiquei doida para fazer enquanto lia seu livro, e outras que também interessam ao público e leitores em geral.
Então é isso, espero que curtam a entrevista.
“Se um livro é bem escrito, sempre o acho curto demais”, Jane Austen.
- Como surgiu a ideia de adaptar um texto de Jane Austen?
Desde a adolescência, tenho uma relação de admiração e fascínio por autoras inglesas do século XIX, em especial Jane Austen. Sempre acompanhei as adaptações literárias e cinematográficas das obras dessa autora, contudo continuava criando minhas próprias histórias inspiradas em seus belos romances. Um dia, com o apoio do meu marido e da família, decidi escrever “Primeiras Impressões”. Meu maior desejo é que os leitores – principalmente os fãs de Austen – gostem do resultado.
- Jane Austen e você, quais as semelhanças e diferenças?
Ao criar um romance baseado em Orgulho e Preconceito, tentei manter as características que mais admiro no original: o sarcasmo e a crítica social estão presentes em cada cena, cada personagem, algumas vezes de forma sutil, outras de maneira escancarada; todos os seus personagens têm uma característica distinta, não são descritos de forma superficial ou leviana, e é possível distinguir qualidades e defeitos em cada um deles, não há santos ou demônios. Gostaria de enfatizar o que busquei manter nos personagens principais. Lizzie é uma mulher independente e feminista, especialmente no contexto em que se encontra, então desenvolvi uma personagem com essa personalidade, mesmo que o efeito, no século XXI, não seja tão chocante como tenho certeza de que foi no século XIX. Sobre Mr. Darcy, sua perfeição está em seus defeitos, e como ele busca superá-los por conta do amor que sente por Lizzie. Inicialmente, estava contrariado por seus sentimentos em relação à moça, por motivos mesquinhos e preconceituosos. O que eu amo no Mr. Darcy é sua capacidade de reconhecer seus erros, de mudar e amadurecer para fazer feliz a mulher que ama, mesmo sem saber se vai ficar com ela no final.
- Que público você gostaria de atingir com sua adaptação?
Certamente o gênero do livro e seu estilo são voltados para o público feminino. Meu pai, por exemplo, apesar de ter gostado do estilo da escrita, já me disse várias vezes que não entende nosso fascínio pelo Mr. Darcy... Meu marido não ousa fazer esse tipo de comentário. Então, acho que é mais uma questão de que mulheres eu gostaria de atingir. Honestamente? Todas!
Adoraria que cada mulher, independentemente da idade, origem ou condição social, se identificasse com o livro e os protagonistas. Sei que é muito para pedir, mas temos que sonhar.
- Em sua opinião, na atualidade há mais orgulho ou preconceito na sociedade?
Ambos. O preconceito – seja ele racial, social, sexual, de origem, ou religioso – não só está presente como se encontra em uma fase de extremismo. Por exemplo, parece inacreditável, mas eu ainda sofro muito preconceito por ser nordestina e mulher, algo que soa inconcebível em pleno século XXI.
Em relação ao orgulho, penso que a própria sociedade o incentive da pior maneira possível, seja por meio da valorização de celebridades instantâneas, ou da manutenção de pessoas corrompidas em corporações e instituições públicas, ou até mesmo de valorização irracional do corpo. Concordo quando o Mr. Darcy afirma que o orgulho em si não é problemático. Você pode se orgulhar de um filho pródigo, de uma amiga que conquistou uma promoção, de seu país, de seus pais trabalhadores. A questão é do que nos orgulhamos.
Ou seja, as coisas podem ter mudado muito nos últimos dois séculos, mas o título da obra mais conhecida de Jane Austen continua incrivelmente atual e adequado.
- E em relação à literatura, já que muitos adoram adotar o preconceito literário?!
Não gosto de vitimar ninguém, mas de fato lidamos com dois grandes preconceitos literários: primeiro, o autor nacional não é valorizado, nem sequer pelas livrarias brasileiras! As vitrines são sempre cobertas de best-sellers estrangeiros, praticamente ignorando a multidão de autores nacionais (muitos dos quais excelentes) que temos. Em segundo lugar, várias pessoas, de ambos os sexos, não leem mulheres. Ponto. Adoro o caso de uma amiga, a qual se autodescreve como feminista, que não acreditou em minha afirmação. Foi verificar sua ampla coleção literária e o que descobriu? Oito de dez livros seus eram de autores masculinos. Com os homens, acho que a proporção é ainda mais prejudicial para nós.
Pretendo adaptar outras obras de Jane Austen e, quem sabe, até mesmo mais autoras do século XIX. Já comecei a rascunhar o próximo romance, inspirado em meu segundo livro favorito de Austen.
- Você acha que Jane Austen ainda tem espaço com os adolescentes de hoje?
Deveria ter. Como mencionei anteriormente, as questões debatidas por Austen, por mais que tenham mudado bastante, ainda continuam as mesmas em seu núcleo, como o papel da mulher na sociedade, os preconceitos sociais, a valorização de questões irrelevantes, etc.
- Quais são seus planos futuros em relação aos seus livros? Pretende escrever mais adaptações de livros de Jane Austen?
Com certeza! Atualmente, estou mais envolvida em dois outros projetos: um livro de fantasia infanto-juvenil e uma coletânea de contos cujo foco é a relação de mãe e filha. No entanto, como afirmei acima, já estou rascunhando o próximo romance inspirado no livro... Que ainda é surpresa!
- Durante a leitura do seu livro foi divertido ver Mr. Darcy nos dias atuais. Como foi a experiência de colocar um personagem tão complexo em nosso mundo, com tanta tecnologia?
Eu ri muito com a sua pergunta, porque, enquanto escrevia, tudo o que conseguia imaginar era o Colin Firth ou o Matthew Macfadyen, com aquelas roupas pomposas e o jeito sério, com um celular na mão. Tudo o que me restou foi tentar manter a dignidade do personagem com a personalidade mais formal possível...
- Se Mr. Darcy fosse um avatar, quem você o imagina como esse herói romântico?
É difícil se desvencilhar da imagem de Colin Firth ou Matthew Macfadyen como o personagem clássico. Porém, se tivesse que escolher o – meu, seu, nosso – Mr. Darcy do século XXI, teria que indicar o Richard Armitage, que me conquistou completamente como o Mr. Thornton na série “Norte e Sul”, da BBC. É alto, tem olhos azuis, cabelos escuros, além do olhar mais sensual da TV. Até no “Hobbit” ele roubou a cena!
- O que você acha do mercado editorial atual? E dos blogs literários que apoiam os autores? Ajuda ou atrapalha?
Se não fosse por blogs como o “Sempre Romântica”, meu livro teria uma divulgação ínfima. Vocês ajudam porque gostam do que escrevemos, querem apoiar os autores nacionais, não o fazem por fins lucrativos ou com segundas intenções. A crítica literária dos blogs é tão genuína quanto o carinho com que vocês nos tratam. Sou uma autora iniciante, mesmo assim fui recebida de braços abertos pelas blogueiras e blogueiros. Tudo o que tenho a dizer a vocês é: obrigada. De coração.
- E quanto aos autores que preferem quantidade à qualidade na hora de publicar. Qual sua opinião sobre isso?
Apesar de não concordar, não posso julgar... Infelizmente é uma fórmula que, por vezes, têm dado certo para determinados autores. No entanto, não é algo que deseje para mim ou minhas obras. Um livro é uma parte de você, da sua alma. É um pedaço íntimo que você divide com o mundo. Portanto, quero que seja o melhor possível.
- Quais conselhos daria para um autor que está iniciando a sua carreira e que quer muito publicar um livro?
Não passe anos com seu livro escondido na gaveta, passando por infinitas revisões, aguardando a resposta de alguma editora. Se não lhe oferecerem uma chance, ofereça-a a si mesmo! Publique, corra atrás e divulgue!
- Muitas vezes, por falta de incentivo ou interesse por parte das editoras, muitos desistem de publicar e abrem mão dos seus sonhos. O que tem a dizer sobre isso?
Receber meu primeiro livro impresso em casa foi uma das melhores sensações que já tive. Acho que ninguém deve deixar de passar por isso, simplesmente porque nenhuma das grandes editoras o selecionou. Devemos ter em mente que, nesse quesito, o cenário está contra nós: a chance de um autor desconhecido conseguir ser selecionado por uma grande editora é mínima. Sendo assim, temos que usar o que nos é favorável: as pequenas editoras, que permitem a publicação do nosso trabalho, a internet e os blogs, que nos auxiliarão em sua divulgação. Abrir mão de nossos sonhos? Jamais.
- Você acha que o preconceito impera tanto por parte dos leitores quanto das editoras?
Ainda não conheço com profundidade o mercado para afirmar com precisão. Porém, baseada em minhas primeiras impressões, diria que sim. Aparentemente, tanto as editoras quanto os leitores parecem não ter muita vontade de se arriscarem. Então, ficam com o pacote básico: best-sellers estrangeiros. Não critico quem lê esse tipo de livro (eu, por exemplo, o faço), o problema seria ler apenas isso. Acho que precisamos ampliar nossos horizontes e dar chance aos ilustres desconhecidos espalhados pelo Brasil.
Bate bola:
- Um livro;
Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro (a meu ver, obrigatório para todos os brasileiros ou residentes no Brasil).
OBS: Poderia colocar Orgulho e Preconceito, mas não quis ser tão óbvia.
OBS: Poderia colocar Orgulho e Preconceito, mas não quis ser tão óbvia.
- Um personagem inesquecível;
Morgana, da série “As Brumas de Avalon”. Geralmente, Morgana é tratada como vilã, traidora, bruxa. Nesta maravilhosa saga, no entanto, a qual é escrita sob a perspectiva feminina da lenda do Rei Arthur, ela é uma mulher forte, independente, e simplesmente incrível. Uma deliciosa surpresa de Marion Z. Bradley.
- Um casal perfeito;
Preciso responder? Ok, Lizzie e Mr. Darcy...
- Uma mocinha;
Katniss Everdeen, da saga “Jogos Vorazes”. É uma mocinha nada mocinha...
- Um mocinho;
Gus, de “A culpa é das estrelas”. Admito que li o livro depois de assistir ao filme. Mas o Gus é um dos poucos personagens masculinos que consegue ser nerd e sexy ao mesmo tempo, sem precisar da postura de bad boy (que é bem mais fácil de ser irresistível)... Ele é a combinação perfeita de sarcasmo, inteligência, gentileza e, claro, romantismo.
- Um vilão;
Mr. Rochester, que é o vilão/mocinho mais perfeito de todos os tempos!
- Um autor;
J. K. Rowling, que era secretária antes de se tornar uma das maiores escritoras do século (até mesmo da História) Inspiração perfeita para todas as autoras iniciantes!
- Uma música;
“As Time Goes By”, eternizada no filme Casablanca.
- Uma cena de romance inesquecível;
Mais uma referência de Casablanca: a despedida de Rick e Ilsa... “Wewill Always have Paris”/ “Sempre teremos Paris”
- Uma frase de efeito;
“We are allfools in love” / “Somos todos tolos quando nos apaixonamos”. Charlotte Lucas, Orgulho e Preconceito.
- Seu livro em uma palavra:
“Apaixonadas”
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Quero agradecer imensamente a autora pela disposição em responder de pronto as questões, meu muito obrigada Laís.
Agradecer também às queridas Carla Fernanda (Sonho de Reflexão) e Fernanda (Caçadora de Livros) pela ajuda na elaboração das perguntas, vocês são umas queridas.
Leninha!
ResponderExcluirNossa! Acredito que é uma das entrevistas mais completas e com perguntas diferentes que já li e como gostei...
Tão bom poder sentir uma autora pertinho de nós e passar suas experiências, como se sente e o que espera.
Parabéns!
Sucesso para Laís R. de Oliveira.
Sou muito fã dos autores nacionais e os valorizo.
Aproveite o feriadão com moderação e amor no coração!
Cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Que bom que você gostou Rudynalva, foi um prazer ler as respostas, pode acreditar.
ExcluirLaís é um talento que ainda nos reserva muitas alegrias.
Bjs
Muito obrigada, querida Rudy! E aproveito para agradecer à querida Leninha, pela oportunidade e pelas perguntas super criativas! Diverti-me demais respondendo à sua entrevista!
ExcluirBeijos,
Laís
Leninha não sei se meu comentário anterior foi, por isso: acredito que a Laís é uma autora fofa e leve, apesar de mostrar as garras quando necessário. Acredito também que tais características sejam apresentadas também na obra. E como não se animar com ela detalhando quando recebeu a sua obra em casa. S2
ResponderExcluirBjks Leninha. A entrevista ficou show!
Obrigada querida! Foi um prazer entrevistar a Laís, e melhor ainda sentir que estamos nos tornando amigas (isso não tem preço).
ExcluirBjs